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“Tuca & Bertie”: dos contrastes às metáforas

Há leveza na nova comédia da Netflix, comandada por Lisa Hanawalt, a responsável pelos desenhos de BoJack Horseman


Na primeira sexta-feira de maio estreou na Netflix o desenho animado Tuca & Bertie, com direção de Lisa Hanawalt. A nova produção explora contrastes e metáforas a partir de duas personagens principais, que retratam críticas em um enredo que além de cômico, é leve. Com dez episódios de aproximadamente 30 minutos, a produção é passível de comparação à BoJack Horseman, já que Lisa foi responsável pelos desenhos em BoJack.

https://www.youtube.com/watch?v=WXuv-Z6pL10

A comédia de Hanawalt é leve, encantadora e crítica, criada por uma mulher, sobre mulheres e para mulheres se identificarem de alguma forma com as situações que as protagonistas se encontram – não apenas as que envolvem machismo e relações afetivas, mas também dúvidas da vida adulta, problemas familiares e temas polêmicos. Na mesma pegada que BoJack, a nova série se passa em uma cidade, Bird Town, onde animais antropomórficos vivem junto à plantas e objetos que ganham vida nesse universo. Além disso, a criadora optou por focar em duas mulheres não-brancas: Tuca, cuja dubladora é a atriz e comediante Tiffany Haddish, e Bertie, com voz da humorista Ali Wong. A primeira é uma mulher negra, e a segunda uma mulher de descendência vietnamita.

Tuca é uma tucano fêmea hiperativa, positiva e entusiasta com as pequenas e simples coisas da vida, segura e confiante, sempre tentando deixar todos alegres. Por outro lado, é despreocupada, irresponsável e parece nunca ter saído dos 16 anos de idade, por mais que já esteja na casa dos 30. Amiga fiel de Tuca, Bertie é uma ave canora tímida, responsável e sonhadora, apaixonada por confeitaria e sempre idealiza ter sua própria padaria. Seu contra-partido é a insegurança e ansiedade, às vezes tendo crises que a paralisam de sair de casa, impedindo-a de viver um dia normalmente.

Essa amizade é cheia de contrastes e reafirma o clichê tão conhecido pelas produções audiovisuais: os opostos se atraem. Tuca & Bertie começa quando as duas amigas não vão mais morar juntas, já que Bertie opta por morar com o namorado, Speckles (Steven Yeun), e Tuca precisa se mudar para o andar de cima do mesmo prédio. Com a premissa simples, o que mais encanta no desenho é conseguir usar os contrastes da amizade e de metáforas para tratar de questões femininas de forma leve, engraçada e autêntica, sem banalizar às situações ao levantar críticas sociais.

O uso de palavras que flutuam após serem ditas, as reações exageradas dos personagens e as transformações que sofrem como “perder” e “ter de volta” uma parte do corpo, como se fosse algo normal, são algumas das várias metáforas criadas. São formas de enfatizar algumas situações, palavras e reações, que além de gerar humor, causam impacto e persuadem o telespectador.

Embora parecam apenas recursos singelos do desenho para nos fazer rir, Tuca & Bertie prioriza e levanta problemáticas sem esforço, fazendo o público refletir sobre. Abuso sexual, machismo, invisibilidade feminina dentro do mercado de trabalho, insegurança e ansiedade paralisantes, alcoolismo, traumas de infância e relacionamentos problemáticos, são algumas das várias questões retratadas pelo programa. O desenho consegue trazer, com humor, leveza e consciência, fazer as suas críticas e trazer resoluções para os temas levantados.

Tuca & Bertie é uma série que apresenta uma nova proposta, indo além do cômico e adionando contrastes e metáfora que persuadem, criticam e ressaltam questões que podem parecer o “fim do mundo” ou “impossíveis” de se resolver. E a cada fim de episódio percebemos com as duas personagens que, apesar dos pesares, a vida é bem mais leve do que pensamos.

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