Em um drama forte e emocional, “Navillera” é uma belíssima história seriada sobre alcançar os seus sonhos e construir laços familiares.
AApós perder mais um amigo para a velhice e ocioso pelo grande tempo livre que tem em suas mãos, o aposentado Sr. Shim DeokChul (In-hwan Park) decide ir atrás de um sonho há muito perdido. Quando sua memória é reacendida ao assistir o ensaio de Lee ChaeRok (Song Kang), o senhor de 70 anos passa a ficar determinado em sanar o seu desejo de aprender balé. O problema é que o jovem bailarino não está disposto a ser seu professor, uma vez que ele tenta ser bom o suficiente para passar na seleção de alguns das mais conceituais companhia de balé do mundo.
Navillera, série do canal coreano tvN distribuída internacionalmente pela Netflix, é uma produção de 12 episódios que acompanha a relação desses dois personagens de gerações diferentes, e em como o sonho de dançar irá conectá-los – mesmo que suas vidas pessoais tragam barreiras para o êxito da jornada.
Com uma base muito forte no ambiente familiar e na busca pela realização de sonhos, Navillera tece a sua narrativa de uma forma muito cuidadosa. Assistir aos 12 capítulos do programa é como assistir a vida de alguém se desenvolver diante dos seus olhos, em um roteiro que traz grande realismo e profundidade para os seus personagens e os problemas que eles carregam.
Emocional do início ao fim, a série da tvN demonstra ter uma clareza na história que quer contar, colocando migalhas por todo o seu fio narrativo até alcançar suas revelações ou o seu clímax. Nesta jornada, o telespectador logo percebe que Sr. Shim e ChaeRok rapidamente se tornarão instrumentos de inspiração para todos os outros personagens, que também vivem vidas frustadas e suprimem seus próprios sonhos e desejos para viverem em uma vida que eles julgam “correta” e “esperada”.

Neste quesito, para os navegantes de segunda viagem como eu, ou até mesmo alguém que assiste dramas coreanos na expectativa de aprender cada vez mais sobre a cultura, é interessante perceber os valores que os coreanos carregam. Quando descobre sobre as “escapadas” do Sr. Shim, a Sra. Shim (Moon-hee Na) é contra o sonho de seu marido porque ele, ao se aposentar, supostamente deveria viver uma vida calma e pacífica ao lado dela.
O seu filho mais velho, Shim Seong-San (Hae-Kyun Jung), por outro lado, acredita que tal decisão não só é leviana como uma forma de trazer desgosto para o nome da família e um ataque pessoal do Sr. Shim para a reputação de seus filhos – especialmente a dele (“Porque você está fazendo isso comigo? O que eu te fiz para merecer algo assim? Eu te feri? Fui um filho ruim?“).
Há um grande senso de pertencimento e comunidade familiar na cultura asiática. O seu corpo não é apenas seu, mas de toda a sua família (algo que é central no filme chinês-americano A Despedida). Todas as suas vitórias, fracassos e decisões pessoais afetam a honra de todos, o que torna a reação da família Shim esperada e compreensível. Para nós, por outro lado, que vivemos em uma sociedade mais individualista, as reações familiares de Navillera causam certa estranheza e desconforto, já que não temos a tendência de desistir de um sonho ou uma vontade porque isso pode ter um impacto negativo em como as pessoas irão ver nossos pais, por exemplo.
O drama coreano acaba virando um interessante estudo de cultura no meio de uma narrativa de grande peso dramático. E com a atuação arrojada de In-hwan Park e Song Kang, que entregam ao público personagens tão reais quanto aqueles que convivem conosco diariamente no “mundo real”, seus respectivos protagonistas mostram a força da produção através de seus gestos, de suas personalidades, suas histórias e bagagens e, claro, seus respectivos estilos de dança.
Embalados pela vontade de “querer voar” com a dança, ambos farão com que Navillera apareça como um dos melhores dramas coreanos de 2021 nas listas de final de ano. E se você quiser se aventurar nessa bela e apaixonante jornada, e entender o motivo por trás de tantos elogios, nunca é demais avisar: prepare as caixas de lencinho. Navillera é tão bela quanto o balé que carrega sua história.