A edição em que os latinos deixaram as discussões políticas apenas e tomaram conta do Halftime 2020, evento de maior audiência da televisão norte-americana.
Dança do ventre, pole dance, hits reconhecidos, dançarinos. Foram com esses ingredientes que aconteceu no último domingo (2) o show do intervalo do Super Bowl 2020, o maior evento da televisão norte-americana. A performance, que marca a 54ª edição do evento, apostou em Jennifer Lopez, filha de porto-riquenhos, e a colombiana Shakira que, no primeiro encontro no palco, mostraram energia e controle, da voz e do corpo, em grande estilo, como pede a ocasião.

As duas maiores artistas latinas da música pop surpreenderam e empolgaram pelo clima quente em que transformaram o palco erguido sobre o gramado do Hard Rock Stadium, em Miami. Além disso, passaram ao público uma grande capacidade de entrega, envolvendo a plateia no ritmo latino do começo ao fim.
Acompanhada de dançarinas e um vestido vermelho brilhante, Shakira começou a apresentação com um medley de alguns de seus hits, como She Wolf e Empire, indo das batidas ao rock e da guitarra a bateria, mostrando suas habilidades também junto aos instrumentos.

Até uma corda tornou-se parte dos movimentos nas mãos de Shakira enquanto cantava o hit Whenever, Wherever. Depois seguiu o show com a participação de Bad Bunny em uma versão de I Like It da Cardi B, Chantaje, junto a um time de dançarinos e Hips Don’t Lie, momento em que se jogou para os braços do público, que a levaram até o outro lado do palco.
O pole dance marcou a entrada de Jennifer Lopez ao espetáculo. Com músicas famosas de sua carreira, como Get Right e Waiting for Tonight, JLo mostrou força e habilidade para cantar até mesmo acima do chão e depois, enquanto dançava em uma plataforma, J Balvin participou trazendo o sucesso Mi Gente, não deixando nem a própria cantora de fora da dança.
Identidade além da dança
Fato é que durante os 14 minutos do intervalo os latinos ultrapassaram a posição de protagonistas apenas dos debates e medidas políticas nos Estados Unidos e mostraram sua relevância para o mundo através da arte e da expressão cultural. O show do intervalo do badalado Super Bowl LIV propôs mais que uma apresentação dançante e enérgica, mas sim uma pausa para prestar a atenção no que os latinos, e imigrantes em geral, tem a oferecer e compartilhar com outros povos. A experiência exposta ao olhos dos torcedores, de maioria nacionalidade norte-americana, certamente comprovou a grandeza da vivência latina.

Realizar esse feito no Super Bowl é muito significativo, pois o evento representa a tradução dos EUA em modo de vida, por exemplo, e isso que Shakira e Jlo quiseram passar: a tradução delas também.
Caminhando para o fim da apresentação, o palco recebeu um grupo de meninas, crianças, para engrandecer ainda mais a festa. Shakira voltou tocando bateria e Lopez, com uma bandeira de Porto Rico, introduziu Waka Waka, contagiando a todos e tomando o espaço através da dança para juntas, encerrarem a apresentação.
Por meio do espaço destinado a apresentação do intervalo, mostraram um pedaço da América Latina, com movimentos, danças, letras que nos unem à cultura de anos da nossa terra, além de levar a cultura latina ao horário nobre. É como se elas chamassem as pessoas, da arquibancada e dos televisores em todo o mundo, para ficarem à vontade no “palco”, que também passa a ser do público quando tem contato e conhece mais do que outros povos têm a ensinar.

JLo e Shakira certamente levaram todo o suingue latino para o estádio, e representaram a mulher contemporânea com sua própria linguagem, além de comprovarem, para quem ainda não tinha consciência, porque ultrapassaram as fronteiras.
Importante é que a performance desse ano não se resumiu a aspectos típicos de eventos espetacularizados, isto é, efeitos, cores e fogos como no ano passado. Em ano eleitoral, o Super Bowl conseguiu se reinventar e abrir os horizontes para as discussões sociais e políticas que tanto fazem parte do nosso tempo e nossa geração, para, enfim, exibir uma performance animada e capaz de atingir a audiência, feito não realizado desde 2017, quando o show do intervalo foi conduzido por Lady Gaga.

Afinal, muito do sucesso de grandes eventos se devem à música e, acima de tudo, da capacidade de assumir riscos e surpreender o público. Por via das dúvidas, dance, se expresse e tente com isso, como foi feito, mostrar suas raízes.
Demais atrações
Antes mesmo do intervalo ou do jogo em si, os atletas de Kansas City Chiefs e San Francisco 49ersprestaram uma homenagem a Kobe Bryant, atleta da NBA que morreu recentemente em um acidente de helicóptero.
Demi Lovato foi a responsável neste ano por interpretar o hino nacional norte-americano. Apostando nos vocais poderosos marcantes de sua carreira, a cantora mostrou talento e emocionou a todos os presentes e telespectadores ao exaltar o nacionalismo por meio da sua voz, uma semana após retornar ao mundo da música no Grammy.
Demi agora se junta a um time de artistas de peso que já interpretaram o hino nacional do evento, como Whitney Houston, Lady Gaga, P!nk e nos deixa esperançosos para o que ainda pode contribuir no cenário artístico.
Ainda, Yolanda Adams interpretou America, The Beautiful, canção de Barbra Streisand, acompanhada do coral The Children’s Voice.