Durante a década de 1990, a música ganhou um gênero mais melancólico, com o nascimento do grunge e shoegaze por nomes como Kurt Cobain.
EEm uma conferência sobre física, Lorde Kelvin afirmou que a física não tinha mais nada a descobrir. Não existe declaração melhor para descrever a música dos anos 90. Enquanto o mundo presenciava a Guerra Fria desabar junto ao muro de Berlim, a música enfrentava suas “nuvens no horizonte”. A impressão que se tinha era de que nada mais inovador poderia ser feito, tínhamos atingido o ápice. A solução foi simples: a inovação viria da mistura de estilos e do aperfeiçoamento de estilos já criados.
As boybands retornaram ao mercado, agora com um leve toque da música eletrônica, que seria aumentada nos anos 2000. Os irmãos Gallagher, juntamente com Damon Albarn, juntaram as influências britânicas dos anos 60 e colocaram novamente a rainha do mar no mapa da música. De todos os estilos que surgiram, dois merecem menção honrosa nesse texto: O Grunge e o Shoegaze.

Com sonoridades fortes e letras melancólicas, o Grunge surge no começo dos anos 90, tendo como sua capital a cidade de Seattle. O estilo foi um símbolo para uma juventude rebelde, que se voltava contra todo o pragmatismo musical das décadas passadas, com exceção do Punk. A ideia era simples, quanto mais distorcida a guitarra, melhor o som. A explosão do Overdrive e a bateria pulsante eram acompanhadas por letras hora com um teor de revolta e ódio, hora com um teor extremamente melancólico. Em meados da mesma década em que surgiu, o Grunge ainda sentia o suicídio de Kurt Cobain, símbolo de toda essa geração, e acaba caindo em desuso. A falta de atitude e o ar de apatia eram marcas registradas.
Marcado por guitarras barulhentas e letras extremamente intimistas, o Shoegaze surge no fim dos anos 80 e tem seu ápice nos anos 90. Pouco conhecido no mundo mainstream, o estilo se sobressaía no submundo da música. A sonoridade forte e os abusos da distorção tornam difícil o entendimento. É considerado o percussor da música Indie que se seguiria nos anos 2000. Bandas como Sonic Youth e My Bloody Valentine são um dos destaques. O movimento teve seu declínio devido à ascensão do britpop na Inglaterra e do próprio Grunge nos Estados Unidos, além do surgimento da mudança de algumas bandas para o post-rock.

Os dois estilos têm muito em comum no que diz respeito a temática. Nunca a morte e a melancolia foram uma temática tão abordada. Esse fato tem uma explicação, a década foi marcada por uma pressão e exposição enorme dos músicos na mídia. Muito desse fato tem a ver com a criação de um canal que falava 24h de música, a MTV, que praticamente patrocinou o grunge, e teve sua parcela de culpa nessa exposição ao máximo dos músicos. Cobain foi o maior alvo disso, exposto ao ridículo diversas vezes, chegaram a colocar boatos de que ele e Courtney prejudicaram a saúde do bebe, devido a um suposto abuso de drogas durante a gravidez, o que levou a perda temporária da guarda da filha. Outra parte se deve também à pressão em que eles eram submetidos, o nível dos músicos tinha aumentado, não era mais tão fácil fazer sucesso na música, os Gatekeepers ficaram mais exigentes e a concorrência dentro do próprio cenário virou uma realidade. Os produtores exigiam cada vez mais de seus produtos.
Além da pressão do próprio mercado, existia uma certa pressão social. Os anos 90 foi época em que os estilos efervesceram, todos aconteciam ao mesmo tempo, o mercado era amplo e, consequentemente, exigência dos fãs também. A música não tolerava mais o monopólio de um estilo só. A maior problemática dessa situação é o fato de que houve uma glamourização da depressão no artista, era algo sofisticado o artista sofrer e, se isso rendesse bons álbuns e discos, tudo bem. A falta de sensibilidade quanto a assuntos relacionados aos transtornos psicológicos dos artistas era nítida e se refletia no modo como a mídia e até mesmo os fãs faziam disso uma qualidade no músico. Não se enxergava uma pessoa com dor, se enxergava uma pessoa talentosa que transformava seu próprio sentimento em algo bonito.
Nunca foi algo bonito. Nunca soubemos enxergar as letras das músicas como um desabafo. Continuamos errando.
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