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Baco Exu do Blues lança o álbum "BLUESMAN" apostando pesado no Blues, cantando versos sobre romance, autoafirmação e negritude.

Baco Exu do Blues lança o álbum “BLUESMAN” apostando pesado no Blues, cantando versos sobre romance, autoafirmação e negritude.


T“Tudo que quando era preto era do demônio e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues.” É assim que o rapper baiano, de 22 anos, Diogo Moncorvo, mais conhecido como Baco Exu do Blues, inicia seu novo álbum, BLUESMAN. O material, marcado pelo passeio entre a vivência, romance, autoafirmação, raiva, negritude e saúde dos negros, dá a densidade necessária a obra do artista.

Quem lembra de Baco Exu do Blues ganhando a cena do rap, em 2016, com a música Sulicídio, em parceria com o rapper pernambucano Diomedes Chinaski, talvez entenda melhor a importância de um álbum tão bem produzido como esse. Na faixa citada, os artistas escancararam os preconceitos que as produções culturais nordestinas, especialmente o rap, enfrentam no restante do Brasil. Em seguida, Baco deu ao mundo o seu álbum de estreia Esú, um material que lhe rendeu bons frutos, prêmios e o hit Te Amo Disgraça.

Todo esse caminho ajudou na construção do novo disco. No entanto, antes do lançamento, o público pôde escutar outras canções do artista. Estes são os casos das faixas Facção Carinhosa, Sinfonia do Adeus, a trinca Banho de Sol, Tardes que Nunca Acabam e Última Noite, além de Lovesong, que serviu para apresentar ao público o novo artista de seu selo, Shan Luango.

Como de costume em seus trabalhos, o rapper traz uma imagem para representar cada música. Em Esú, as fotografias ficaram por conta de Mario Cravo Neto. Para BLUESMAN, Helen Salomão é a fotógrafa responsável por traduzir as canções em imagem. Porém, a capa do disco ficou por conta de João Wainer, conversando bem com o restante dos materiais trabalhados. O registro mostra um homem negro tocando guitarra dentro do Carandiru, que na época era o maior presidio da América Latina.

https://www.youtube.com/watch?v=-xFz8zZo-Dw

 

Homem do Blues

BLUESMAN continua extrapolando os limites de um álbum convencional de rap ao ganhar um curta-metragem, de oito minutos, desenvolvido em parceria com o Coala Festival e a agência AKQA. Dirigido por Douglas Bernardt e disponibilizado no Youtube, Baco Exu do Blues conta em sua conta no Instagram que o filme é uma parte dele, para seus fãs: “Espero que vocês me entendam e se não entender só sinta”.

A faixa-título começa com um sample da musica Mannish Boy,  grande sucesso do blues, interpretado por Muddy Waters em 1955. Aliado a isso, a letra apresenta o conceito do novo álbum. “Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos / O primeiro ritmo que tornou pretos livres / Anel no dedo, em cada um dos cinco / Vento na minha cara, eu me sinto vivo / A partir de agora considero tudo Blues / O samba é Blues, o rock é Blues, o jazz é Blues, o funk é Blues, o soul é Blues, eu sou Exu do Blues / Tudo que quando era preto era do demônio e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de Blues / Jesus é Blues”, é tudo que Baco diz sobre a canção. E não precisa dizer mais nada.

A faixa Queima a Minha Pele traz a parceria com o cantor Tim Bernardes. A música começou a ser composta pelo refrão, mais tarde ganhou a melodia, os beats e só depois os versos ganharam vida. “Ela foi feita com urgência, ela precisava ser feita e foi concluída nos 45 do segundo tempo. Quando escuto essa música sinto a dor do Blues, sem necessariamente estar ouvindo Blues”, revela Baco Exu do Blues. Com um forte potencial para se tornar um hit, Me Desculpa Jay Z é a canção que fala sobre relacionamento, fraquezas e inseguranças. Interessante dizer que, inicialmente, a música se chamaria Blues da Bipolaridade, por todos os caminhos descritos na letra.

Já a sequência, Minotauro de Borges, mostra Baco Exu do Blues em seu estado de autoafirmação, endeusado pelo seu povo. Além disso, o uso da percussão permite uma aproximação maior com as produções de Esú. De acordo com o rapper “essa música é sobre a lógica da monstruosidade em um jogo de velar e revelar o monstro”.

Kanye West da Bahia talvez seja a canção mais ousada, em termos de produção. Há uma mistura de ritmos que nos conduz de melodias caribenhas à beats que nos remetem ao próprio Kanye West. Além disso, a música, que tem participação de Bibi Caetano e do próprio produtor DKVPZ, é certeira no discurso antirracista. “Rodeado de polemicas em sua volta o Kanye é uma pessoa que não se rotula a nada e isso em sua essência é ser bluesman”, conta. Outra faixa que tem tudo para se tornar para um hit é Flamigos. Além de apresentar solos de guitarra de Tim Bernardes, a música conta com a importante colaboração de Tuyo, trio curitibano de R&B e folk futurista.

Em Girassóis de Van Gogh a conturbada relação amorosa tratada em Queima Minha Pele é retomada. Mas se engana quem pensa que isso deixa o álbum cansativo: as gravações conseguem se diferenciar bastante entre si, tanto na letra quanto nos arranjos. “Essa música é sobre a pintura de Van Gogh 12 girassóis em uma jarra e o que ela me transmitiu. A procura pela cor perfeita a obsessão de ter que retratar de forma rápida algo que pode “murchar” a qualquer momento me trouxe um sentimento de não estar sozinho. Eu imagino que cada girassol estava apontado pra ele enquanto ele pintava e o fato de na tela eles estarem em posições diferentes faz um mapa dos ângulos que foram pintados gosto de acreditar que o pintor se viu como o sol em cada traço da tela e sua obra o perseguiu assim como as flores fazem”, comenta o rapper.

No já mencionado curta BLUESMAN, é traçado uma relação entre o povo negro e a prata. Uma forma de simbolizar a desvalorização de um povo menosprezado e tratado como minoria social, mesmo sendo maioria quantitativa – algo que ele assemelha com a relação entre prata e ouro. Tudo isso é mostrado na canção Preto e Prata.

A última faixa do disco se chama B.B. King, referência ao maior nome do Blues no mundo, amarrando, ou libertando, todo o trabalho feito até aqui. É o resumo do que significa ser Bluesman aos olhos de Baco Exu. “Não sou legível / Não sou entendível / Sou meu próprio deus / Sou meu próprio santo / Meu próprio poeta / Me olhe como uma tela preta, de um único pintor / Só eu posso fazer minha arte / Só eu posso me descrever / Vocês não têm esse direito / Não sou obrigado a ser o que vocês esperam! / Somos muito mais! / Se você não se enquadra ao que esperam… / Você é um Bluesman”, diz a canção.

Vale ressaltar que depois de tudo isso, Baco Exu do Blues já está trabalhando em um próximo álbum. O projeto, focado em samba, será em parceria com Pretinho da Serrinha.


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