Com a morte do DJ e produtor musical Avicii, nosso Colab Ívens Barros escreve uma carta aberta para um de seus maiores ídolos.
Nota do Editor: esta é uma carta aberta de um fã, para Avicii, em solidariedade a morte do DJ e produtor musical sueco.
E agora, Tim?
Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, não tive chance de lhe agradecer por tudo o que fez por mim, sem ao menos me conhecer. Infelizmente, não tive o privilégio de um dia te mostrar alguma das minhas produções.
E agora, Tim?
E agora que um pedaço da minha esperança no cenário musical se esfacelou com a sua partida? Estamos cercados de artistas sem alma, que não se agarram a uma ideia de música e que muito pouco fazem para rebuscar a emoção de um fã.
Você esteve comigo em todos os momentos da minha vida. Tudo começou quando eu frequentava as famosas festas de 15 anos e, ainda inconscientemente, ouvia Levels e sentia uma emoção diferente. Eu simplesmente não sabia quem havia feito aquela obra de arte (naquela época, eu estava mais interessado por outro gênero musical), mas já sentia uma energia muito boa sempre que te escutava.
A minha desatenção com o cenário eletrônico da época trouxe um arrependimento incalculável, pois perdi a chance de tê-lo visto se apresentar em minha cidade, quando você veio fazer um show, em 2013. Ano este em que fiz uma breve visita à casa do meu primo, grande amigo meu, onde ele pegou o notebook para colocar algumas músicas enquanto conversávamos. Era para a música ser mera coadjuvante naquela tarde, mas eu simplesmente não conseguia mais prestar atenção no diálogo, já que aquele som que se expandia na sala de estar me agradava de uma forma inexplicável.
Era uma música de progressão gostosa e bem compassada, era um ritmo que me dava uma palpitação diferente no coração e a letra parecia ter sido feita para o momento que eu vivia. Era você, Tim, me pedindo para te acordar quando tudo tivesse acabado, era você me explicando que a vida era um jogo feito para todos e que o prêmio disso tudo era o amor. Foi nesse exato momento em que comecei a querer saber quem era o autor de Wake Me Up e o porquê de sua música mexer tanto comigo.
Até pensei que podia se tratar de uma coincidência, mas novamente sua genialidade se encaixou como uma luva em minha vida. Em um momento um pouco confuso, em que minha irmã saía do país para um intercâmbio; eu ouvi aquela sua melodia tão característica, aquele seu desejo de revolucionar um cenário musical tão escasso, Hey Brother para mim virou “Hey Sister”. Mais uma vez você me ensinou lições valiosíssimas, você me ensinou que ainda havia uma estrada ‘sem-fim’ a ser descoberta e também me mostrou que, mesmo que eu não soubesse, não havia nada que eu não fizesse pelos meus irmãos.
Você me ajudou a superar desilusões e me incentivou a ter paciência pelo meu amor, com Waiting for Love, me ensinou a confiar em mim, com I Could Be the One, me ajudou a enxergar que há dias que a gente nunca vai se esquecer, com The Days. Além disso, me deu até coragem de fazer uma tatuagem com uma de suas frases que mais levo e que carregarei para o resto da minha vida: viva uma vida que você vai se lembrar (presente em The Nights).
Olha, eu queria que você soubesse que sua introversão não atrapalhava em nada seus shows, que infelizmente só acompanhei pela internet. E que também nunca vou julgar o fato de você ter se aproximado do álcool por isso, desencadeando inclusive em uma pancreatite, que te fez cancelar turnês e que também te levou a se afastar dos palcos, seguindo apenas com a produção musical.
Tim, nada disso tira sua genialidade, sua expressividade no mundo sonoro, sua legião de fãs apaixonados e que sentiremos muito a sua falta. Você se foi jovem demais, o dia 20 de abril de 2018 estará sempre no meu pensamento como o dia em que a música perdeu um dos maiores talentos dessa geração.
Eu só tenho a agradecer por tudo, pois, como você mesmo colocou em Friend of Mine, só Deus sabe o que seria de mim se você não fosse meu amigo. Você sempre será um dos meus maiores ídolos. Infelizmente, sinto uma tristeza profunda (Divine Sorrow), pois agora tenho que aprender a viver sem você (Without You), mas pelo menos você deve sentir que está de volta aos braços que ama, pois parece que você chegou ao paraíso (como cita em Heaven). Descanse em paz, Avicii! E saiba que eu sou eternamente grato, assim como milhões de pessoas de diversas idades. Missão cumprida, caro amigo.
E agora, Tim?
Agora você é mais um Deus que se mantém consolidado no meio da música, agora você segue em nossos corações. Cada kick de uma música sua representa a batida do coração dos milhares de fãs espalhados no mundo, cada linha melódica escrita por você representa o trajeto que esperamos seguir em nossas vidas, cada letra desenvolvida (mesmo que em parcerias) representa uma lição que você nos deixa de legado.
Olhe por nós, por nossa cena musical, de onde você estiver. Com toda admiração,
Ívens Rodrigues Barros
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